Leonardo de Andrade Carneiro[1]
O Brasil enfrenta uma crise social devido à criminalidade violenta há décadas. Neste ensaio, propomos uma perspectiva alternativa, focando nas práticas criminosas de indivíduos que abusam de sua liberdade. Examinamos a frustração da socialização como um contexto amplo para a criminalidade e questionamos por que alguns permanecem nesse espaço. Deste modo, destacamos que a socialização ocorre em duas etapas: na infância e na vida adulta, moldando valores e regras.
Bourdieu (1986, p.155) afirma que a sociedade é formada por um espaço social onde os agentes e as instituições têm posições e “condicionamentos semelhantes”, que afetam suas preferências e ações de forma parecida. Isso nos ajuda a entender e prever seus comportamentos e atributos. Nesta pesquisa, usamos a Análise de Correspondência Múltipla (ACM) como método estatístico para identificar e medir as propriedades no espaço relacional e explorar as relações entre as categorias e mostrá-las graficamente.
A ACM é uma técnica estatística que mostra as correlações entre as variáveis, permitindo uma visão visual e analítica das propriedades e estruturas dos APLs. Por isso, essa técnica foi escolhida para posicionar os APLs com características e propriedades parecidas, representando graficamente as proximidades e distâncias no espaço relacional estudado.
De acordo com Duval (2015, p. 218-219), a ACM é uma ferramenta estatística que possibilita construir “zonas teóricas e produzir gráficos e tabelas”. Rouanet, Ackerman e Le Roux (2005) dizem que a ACM também pode revelar as relações entre os indivíduos e as propriedades.
Deste modo, a ACM revelou padrões e associações cruciais em 25 variáveis, totalizando 96 categorias, das quais 15 variáveis com 60 categorias são ativas e 10 variáveis com 36 categorias são passivas. As variáveis ativas são responsáveis por gerar as distâncias, enquanto as variáveis passivas complementam as discussões dos resultados.
Figura 1. Distribuição dos APLs no espaço relacional
Fonte: Carneiro, 2023.
Neste contexto, destaca-se que as interações sociais podem moldar o comportamento criminoso ao longo do tempo. Contudo, as pessoas não nascem com tendência ao comportamento criminoso; pelo contrário, essas tendências se desenvolvem à medida que interagem com outros indivíduos e são influenciadas pelo ambiente social que os rodeia. Ou seja, quanto mais próximas estiverem do mundo do crime, maior será as chances de se envolverem com atos delituosos. A análise da trajetória criminosa precisa considerar uma série de fatores, incluindo fatores individuais, estruturais e económicos, bem como o impacto das redes criminosas que reforçam as identidades criminosas. Alguns indivíduos abandonam esse caminho, conforme a teoria do curso de vida.
O artigo reconhece que a criminalidade violenta é influenciada por diversos fatores, como circunstâncias econômicas, fragilidade das instituições de segurança, influência de redes criminosas e tráfico de drogas. A revisão considera várias perspectivas e variáveis relacionadas aos agentes privados de liberdade.
A compreensão das dinâmicas de desistência, permanência e intermitência no crime é crucial, com fatores como apoio familiar, casamento, emprego e princípios morais desempenhando um age com outros campos e estruturas sociais. Distâncias entre os pontos no mostram as diferenças sociais, econômicas e culturais e dos APL. O primeiro divide os APL em dois grupos: o lado esquerdo e o lado direito. No lado esquerdo, estão objetivados os jovens adultos, sem filhos, com baixa escolaridade. iniciaram suas ações delituosas com crimes de menor potencial ofensivo, porém ao longo do tempo, passaram a cometer crimes mais graves. No lado direito do eixo, temos indivíduos com características diferentes. Geralmente, são adultos de outros estados, muitos sem pais vivos, casados ou em união estável, com filhos, o que sugere dinâmicas familiares distintas. As ocupações variam amplamente, e alguns indivíduos não têm informações sobre a residência, indicando possíveis situações precárias de moradia. Em relação à trajetória criminal, os indivíduos do lado direito começaram a se envolver em atividades criminosas após os 30 anos, sugerindo uma abordagem mais ocasional para seus crimes.
O segundo eixo divide-se em dois grupos: o lado inferior e o lado superior. Os APL do lado inferior são predominantemente migrantes enfrentando condições socioeconômicas desfavoráveis, empregos precários e envolvimento em crimes violentos, incluindo homicídios e roubos, seguidos por crimes de menor potencial ofensivo. No entanto, os APL do lado superior se destacam por apresentar duas gerações distintas, a primeira mais velha e a segunda mais jovem, em sua maioria casados ou em união estável, com até três filhos. Eles iniciam suas trajetórias criminais com crimes violentos antes de se envolverem com tráfico de drogas e roubos menos graves. Observa-se uma sequência intermitente e desigual de crimes violentos e crimes menos graves, sugerindo uma progressão ao longo do tempo.
Este resultado destaca a importância das relações sociais, da desagregação familiar e da mobilidade residencial para o curso da vida delituosa. Cada grupo apresentou características específicas que atuam como fatores de risco ou proteção que influenciam o comportamento criminoso, como situação familiar, ocupação, escolaridade e religião. Este estudo reconheceu a complexidade dos fatores que influenciam o crime, e também destacou as suas limitações e forneceu recomendações para pesquisas futuras.
O artigo completo está disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/10365
Referências
BENZÉCRI, Jean-Paul. Correspondence Analysis Handbook Dekker. P, New York, 1992.
BONNET, P. LEBARON, F. LE ROUX, B. 2015. L´espace cultureal français. In: Lebaron, F. Le Roux, B. La méthodologie de Pierre Bourdieu en action: espace culturel, espace social et analyse des données. Paris: Dunod, 2015.
BOURDIEU, Pierre. Espaço Social e Poder Simbólico, São Paulo: Brasiliense, 1986.
CARNEIRO, Leonardo de Andrade. UMA ANÁLISE RELACIONAL DE INDIVÍDUOS PRIVADOS DE LIBERDADE: EXPLORANDO DINÂMICAS RELACIONAIS. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, [S. l.], v. 9, n. 6, p. 1496–1522, 2023. DOI: 10.51891/rease.v9i6.10365. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/10365. Acesso em: 11 dez. 2023.
Notas
[1] Doutorado em andamento em Desenvolvimento Regional (UFT). Mestre em Governança Digital (UFT). Graduado em administração de pequenas e médias empresas. Especialista em Gestão Pública e Especialização em Docência profissional e Tecnológica. Associado ao Instituto Brasileiro de Segurança Pública (IBSP). Membro Efetivo da Academia de Letras, Ciências e Artes dos Militares do Estado do Tocantins (ALCAM-TO). Cadeira número 09.
redação
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